domingo, 1 de maio de 2011

O mito da dor

 É um fato que várias situações sobre a maternidade são prontamente ligadas a dor. Amamentação e o parto são exemplos disso, só que estes eventos não devem ser dolorosos, mas sim muito prazerosos para mãe e para o bebê.  Vou postar dois textos que explicam como surgiu esse mito. Espero que gostem. O primeiro fala sobre a amanetação e o segundo sobre o parto.


"O mito da mãe abnegada também contribui a que muitos bebes mamem em má posição. Por que o bico do peito dói tanto? Um belisco no bico é muito mais doloroso que em qualquer outro ponto da pele. Talvez tem que ser muito sensível para poder reaccionar aos estímulos e desencadear os reflexos da ocitocina e da prolactina? Não necessariamente. O que conhecemos como “tato” são em realidade vários sentidos distintos, com distintos receptores e distintos nervos.O bico do peito poderia ser tão sensível à pressão ou ao contato, mas pouco sensível à dor.

Penso que a extrema sensibilidade à dor serve para garantir que o bebê agarre bem ao peito. Por que davam o peito as mulheres das cavernas, por que dão peito os animais? Porque se recomenda o veterinário, porque ouviram que é muito nutritivo e protege contra as infecções? Está claro que não. O primeiro motivo que levam as mães animais e humanas a darem o peito é, simplesmente, para que o bebê se cale. O choro é um som muito desagradável, que impulsa a mãe a fazer algo para acalmar o bebê. Peito, braços, carícias, canções, seja o que seja, mas que se cale.

Que passava nos tempos da caverna quando um bebê mamava em má posição? O bebê chora, lhe dou peito. Me dói, lhe tiro o peito. Chora outra vez, coloco o peito novamente. Me dói novamente, tiro o peito outra vez...e assim até acertar com a posição correta: “anda, desta vez não dói! Pois que mame todo o que queira...” a dor é um aviso do nosso corpo que a mãe deve mudar de posição, Assim, pode corrigir o problema antes que apareçam as fissuras, as mastites, os vomitos, as cólicas...

Mas, em tempos mais atuais, a lactancia sofreu conotacoes morais. Uma “boa mae” segue dando o peito, ainda que lhe doa. Uma boa mae se sacrifica e cumpre com o seu dever.
Uma “boa mae” nao escuta as mensagens do seu corpo e segue dando o peito em uma má posicao. Até que saem as fissuras- E quando já nao pode suportar a dor, a ansiedade e o esgotamento, quando se entrega e passe à mamadeira, os mesmo que lhe dizem: “nao se preocupe, com os leites modernos se criam igual de bem”, a suas costas comentarao: “ o que acontece é que as maes de hoje nao aguantam tanto.”
Em conclusao, durante milhoes de anos nao devia de haver quase problemas de posicao. Depois de um parto natural, quando o bebê estava nos braços da mae desde o primeiro segundo e nao se movia dali em meses (onde ia a estar, na cueva-nursery?), sem chupetas nem mamadeiras e com abundantes oportunidades para observar a outras maes com seus filhos. Quase todas os bebês mamavam bem. E em caso de problema, a dor avisava à mae para que a corrigisse de imediato. A natureza nao podia prever que nossa sociedade chegaria a fazer todo o contrário.
E por que nao idealizou a natureza um sistema mais simples? Se a ocitocina fosse um pouco mais efetiva, e todo o leite saisse a chorro sem esforzo para o bebê, este podía mamar ainda que estivesse mal colocado, e como nao tinha que fazer forá. Tampouco havia dor ou fissuras. La idéia é tentadora, mas nao pode funcionar. Se o leite saisse sozinho, o bebê nao tinha nenhum controle. Para que a quantidade e composicao do leite se adaptem às necessidades do lactante, é necessário que este mame de forma ativa. Por isso, o leite nao sae sozinho em nenhum mamífero, sempre tem que fazer um esforço. Por isso, as vacas, cabras e ovellhas tem que lhes ordenhar, nao basta colocar um balde debaixo e esperar. 

Por certo, já que estávamos falando de abnegacao materna, me permito fazer um alegato contra o sacríficio. A palabra “sacrificio” tem várias definicoes e alguma delas nao está mal: “ato de abnegacao ou altruismo inspirado por a veêmencia do carinho.”. Mas também pode ser: “acao a que um se sujeita com grande repugnancia”, de modo que se presta confusoes.

Se sacrifica um alpinista para alcançar o cume? Se sacrifica o que estuda concurso para notario ou pratica horas e horas o piano? Nao estao fazendo algo que lhe repugna, estao fazendo o que desejam fazer. Eu nao quero subir numa montaña nem ser notario, e por isso nao o faço.

Se vc quer levar seu filho nos braços ou lhe dar o peito, façá-los. Se vc quer deixar de trabalhar por alguns meses ou alguns anos para cuidar do bebê, ou rechaçar uma magnífica oportunidade de trabalho no exterior para estar com sua família, facá-lo. Mas só se vc quer. Se naum quer, nao o faça. Dizer: “sacrifiquei minha carreira profissional para estar com meu filho” é tao absurdo como : sacrifiquei a realacao com meu filho por minha carreira.”. Nao sao sacrificios, sao eleicoes. Viver é elegir, os dias só têm 24 horas, e o que faz uma coisa nao pode fazer outra ao mesmo tempo.
Elija o que em cada momento te pareça melhor, e pronto. Quem faz o que quer nao está renunciando, está conseguindo, nao se sacrifica, triunfa.

O matiz é importante, porque quem faz um sacrificio, o faz, por definicao, com grande repugnancia. Nao se considerada pagado, acredita que lhe devem algo. Cedo ou tarde você terá conflitos com os seus filhos. Em nesses momentos, quem acredita haver se sacrificado pensam: “parece mentira, depois de tudo que fiz por vc”, ou “por sua culpa, eu não pude chegar a...” As palavras, uma vez pronunciadas, nao se pode voltar atrás. Em compensação, os que são conscientes de haver feito o que desejavam mais bem pensam: “que pena que depois de todos os anos de felicidade que você me deu, agora tenhamos um conflito.” ou “ graças a você, desfrutei do privilégio de ser pai!"

GONZÁLEZ, C. (2009). Comer, amar e mamar.Madrid: Temasdehoy, p.292-294. 

A seguir o segundo texto.

"Umas palavrinhas sobre o parto: o parto via vaginal, quando tudo está ocorrendo normalmente na gestação e no parto é o melhor para a mãe e o bebê. A cesariana é uma cirurgia extensa e só deve ser feita quando necessária para evitar danos à mãe e ao bebê.

O parto via vaginal não tem que ser necessariamente um momento doloroso. Trata-se de um processo fisiológicoe os processos fisiológicos normais são indolores. Por que, então, tornou-se um processo doloroso? É importante que vocês sibam que em muitas culturas primitivas a dor no parto não existe. São culturas que não tem o mito da mãe como figura sofredora. Nas sociedades pratriarcais, certamente a inveja do homem do poder da mulher de gestar e parir criou os mitos da dor no parto ou interpretou ao pé da letra os mitos de algumasreligiões sobre o nascimento do homem. As sociedades judaico-cristãs, que são patriarcais, interpretam com o mesmo rigor o mito do castigo que Deus deu a Eva por ter desobedecido e comido do fruto proibido: Parirás teus filhos com dor. Mas não interpretaram literalmente o castigo que Deus deu ao homem: Comerás o pão com o suor do teu rosto. Ninguém acha que o homem que trabalha sem suar, ou mesmo aquele que não trabalha, está proibido de comer.
Assim, interpretando literalmente a parte feminina do mito bíblico, a humanidade foi construindo, durante séculos, a dor no parto e a dominação da mulher e de sua sexualidade. Mas hoje, sabemos que nem todas as mulheres sentem dores no parto e que aquelas que as sentem podem ser aliviadas por métodos naturais bem simples ou por métodos farmacológicos."

Pamplona,Vitória(2010). Da gravidez à amamentação: o dia a dia de um importante período de nossas vidas-São Paulo: Integrare Editora, 2010.

Espero que aproveitem bastante os textos.
Mil beijos

Doula Pati Fróes
Carinho, apoio e cuidado no momento que a mulher mais precisa

5 comentários:

  1. Adorei! Gonzalez é um dos meus preferidos! =)

    ResponderExcluir
  2. Ele é perfeito, uma riqueza de material. :)

    ResponderExcluir
  3. Já sou sua seguidora!!! Tenho certeza que seu blog será muito útil!!!! Bjos

    ResponderExcluir
  4. Filha muito lindo esse teu carinho por teu filho pois para vc ter escolhido ser DOULA foi pelo teu zelo teu cuidado com teu filho, depois que nosso filho nasce aprendemos muita coisa com ele e queremos sempre melhorar acredito eu que pensando nisso vc quis passar teu conhecimento para outras mães. te dou todo meu apoio. beijus

    ResponderExcluir
  5. A vida é um aprendizado constante, cada dia se aprende mais, e sou agradecida por tudo que aprendo. E agora aprendi mais um pouco, nao sabia o que era DOULA, , como perdi tempo né. Muito lindo esse assunto, entrarei com frequencia para saber cada vez mais. Parabens Pati. bjus

    ResponderExcluir